Numa manhã, no saguão do aeroporto de São Paulo, Gisele Bündchen vem caminhando tranquila para se acomodar num sofá vermelho. As pessoas olham surpresas e intrigadas. A über model símbolo de imagem perfeita, então, zapeia a TV. Primeiro, vêm os jogadores de futebol americano, em seus uniformes imensos, com gritos de guerra ocupando o espaço e a gana de vencer correndo pelas veias. Troca de canal. O repórter noticia, ao vivo, a chegada do furacão Letícia, com ventos de 180km/h. Muda. Os soldados surgem em cena, com expressão de pavor, atirando para todos os lados. Troca. Chegam homens e mulheres da Idade Média em seus trajes de gala, para o baile no salão do castelo. Troca. Ninjas voam pela sala e dão início à luta de vida ou morte. Muda. Trilha sonora de terror e mortos-vivos perambulando pela casa. Troca! Nova York embalada pela música de Frank Sinatra – a neve cai, e Gisele entra, sorridente, no táxi amarelo. Enfim, a assinatura: “Chegou SKY HDTV, a única com dez canais em alta definição.”
O filme de dois minutos produzido pela FCB Brasil e veiculado nacionalmente em maio de 2009 foi um divisor de águas do ponto de vista de construção da marca. Dali em diante, a empresa de TV por assinatura que nasceu no México e ganhou cidadania brasileira elevaria todos seus índices em progressão geométrica. De uma marca azul sem expressividade junto ao consumidor a uma força vermelha, a SKY se tornou a maior operadora de TV por assinatura via satélite do País, com transmissão de sinal 100% digital para todo o território nacional, e base de assinantes na ordem de 8 milhões, o que corresponde a mais de 26 milhões de telespectadores. Mas essa é uma história que merece ser contada do começo.
Céu pintado de vermelho
Em 2006, a mexicana SKY (fruto da aliança entre British SKY Broadcasting, News Corporation, Liberty Media e Televisa) e a americana DirecTV se fundiram, e ao Brasil foi servida uma verdadeira sopa de letrinhas: SKY+DirecTV. Mas o mercado, na época, estava indigesto. As marcas em atividade eram frias e distantes do consumidor; para complicar, a concorrência abocanhava aqueles que tinham algum apetite oferecendo de badeja o “triple play” ou “combo”: telefone, internet e TV fechada. Tem mais: havia dúvidas sobre o futuro da tecnologia, DTH (“Direct To Home”) ou satélite versus cabo. Era imperativo arregaçar as mangas e botar a mão na massa – repensar a receita do negócio, transformar o cardápio de opções, deliciar o público. O primeiro ingrediente: uma agência de propaganda parceira. Quem apresentou o tempero certo e conquistou a conta foi a FCB Brasil.
O nome da empresa precisava ser revisto. Sai DirecTV, fica SKY, só SKY – para tantas ideias pipocando, o céu era mesmo o limite, mas não sua cor. O azul – pantone tradicionalmente associado à tecnologia – tinha que deixar a cena. “Optamos pelo vermelho, uma cor quente, próxima”, afirma Marcelo Miranda, diretor de marketing da SKY. “Estávamos iniciando a construção de um posicionamento. Não seríamos tecnologia por tecnologia, mas, sim, uma companhia inovadora, focada em atender bem, levar entretenimento, proporcionar diversão em família, na segurança da própria casa”, complementa. E com logomarca refeita, os pontos de contato com o consumidor logo se transformaram, claro – uma fase
batizada de “invasão vermelha”, como explica Mauro Silveira, vice-presidente de atendimento da FCB Brasil. “Toda a papelaria e demais materiais de ponto de venda foram atualizados. E no paralelo, fizemos um trabalho forte de incentivo junto aos revendedores e parceiros para que eles mudassem o visual na velocidade desejada”, diz.
Em 2007, entraram no ar as primeiras campanhas publicitárias, com filmes de TV, spots de rádio e anúncios para mídia impressa – sempre com objetivo claro: atrair mais assinantes. Numa delas, com o mote “A SKY quer você”, a empresa enfatizava seus diferenciais, ao mesmo tempo em que apontava as lacunas dos outros players. No filme “Emprego”, Adauto, supostamente colaborador da concorrência, ligava às escondidas para a SKY e, sussurrando, confirmava as vantagens – Campeonato Brasileiro grátis, equipamento 100% digital sem custo e seis novos combos digitais –; no fim da conversa, ele questionava se havia vaga no telemarketing. As vendas aqueceram, mas o ponto de ebulição estava por vir.
Gisele de um lado, Hebe de outro
Em 2009, no frescor de seus três anos de vida, a SKY agitou o mercado de TV paga no Brasil oferecendo, pela primeira vez, canais em alta definição. Era o SKY HDTV, que logo se transformaria no slogan da operadora – “SKY, HDTV é isso.” E mesmo numa época em que quase todos por aqui tinham TV de tubo em standard definition, a sopa de letrinhas, dessa vez, caiu bem. Escolher o garoto-propaganda, encontrar o porta-voz da marca, nesse caso, nem foi complicado. “Quem melhor para personificar a imagem perfeita senão a Gisele?”, pergunta retoricamente Miranda, referindo-se à über model Gisele Bündchen. O filme “Aeroporto” (aquele descrito no início da matéria) abriu a parceria que já dura seis anos e ressaltou a mensagem principal, “a imagem é tão boa que parece real”. No fim de 2009, somavam-se 28 canais em HD, 18 pagos e dez abertos – a maior oferta do gênero na América Latina.
Os atributos tecnológicos passavam a ser reconhecidos pelo consumidor. A SKY firmava-se como uma marca inovadora, moderna, aspiracional, desejada. Mas era a hora de adicionar outro adjetivo a essa lista: acessível. Hebe Camargo, a rainha da TV brasileira, atuou como garota-propaganda de 2010 até sua morte, em 2012. “Com a Hebe, focávamos os produtos e serviços básicos, com preços mais em conta. Já a Gisele nos ajudava a trabalhar o aspecto premium”, esclarece Silveira. “Com o tempo, a marca ficou mais democrática, e a Gisele passou a estrelar todas as comunicações”, acrescenta.
Houve, sim, uma situação em que as duas celebridades protagonizaram filmes de uma mesma campanha, aquela em comemoração aos 15 anos da SKY (considerando a data de fundação da SKY no México, em 1996). Nos vídeos, que carregavam a assinatura “Você evoluiu. A SKY evoluiu”, elas faziam uma breve retrospectiva de suas vidas, focando no lado profissional. Em outra fase, relembravam suas trajetórias os atletas de vôlei Giba, Bruninho e Gustavo; e eles ainda convocavam os assinantes para contar suas histórias de vida e falar da relação com a SKY.
*Para obter o número de telespectadores, a empresa considera o número médio de 3,3 pessoas por domicílio, segundo o IBGE.
Esporte e música
Desde o início de suas operações no Brasil, a SKY patrocina e apoia iniciativas ligadas ao esporte e à cultura de maneira geral. Por isso, não há de se estranhar que sua propaganda explore figuras como o técnico de vôlei Bernardinho, além dos jogadores citados acima, o lutador de MMA Vítor Belfort, o corredor de Stock Car Cacá Bueno e outros. Um bom exemplo dessa conexão com nomes fortes do universo esportivo se deu ainda em 2010, quando entrou em campo o rei do futebol, ao lado da rainha da passarela. Pelé e Gisele discutiam o porquê de ele ter perdido um gol. Na sequência, ela fazia igual com Romário, outro craque da seleção verde-amarela. Em ambos os casos, as conversas fluíam a partir do recurso de pausa na programação.
Na música, a dinâmica é a mesma. A SKY, que é media partner do Rock in Rio desde 2011, conta com artistas como Jota Quest e Claudia Leitte para levar sua mensagem. Em 2013, banda e cantora estrelaram uma campanha com alto nível de produção. Juntos, eles cantavam uma adaptação bem-humorada de “Ol’ man mose”, de Louis Armstrong, conhecida aqui pela versão “História de um homem mau”, famosa na voz de Roberto Carlos. A paródia narrava a mudança na vida dos moradores de um prédio após a instalação de uma antena SKY. As cenas tiveram São Paulo como pano de fundo e algumas foram gravadas no topo de um edifício na Avenida Angélica.